Imagem retangular com parede cinza ao fundo e uma assistente virtual arredondada, na cor cinza, em cima de uma mesa de madeira.

A influência do design emocional no processo de decisão

Isabella Tembikoski
em

Quando falamos em design emocional temos a compreensão de que os produtos não só despertam nossos sentidos mas nos convidam a fazer uma associação inconsciente de sentimentos e significados.

Por isso, é importante entender que a estética muitas vezes acaba por instigar nossos desejos e nem sempre a decisão final está relacionada apenas à função ou à qualidade do produto, mas ao notável impacto visual e a forma como ele é apresentado ao público.

Imagem retangular com parede cinza ao fundo e uma assistente virtual arredondada, na cor cinza, em cima de uma mesa de madeira.Pexels

Uma pesquisa realizada pelo GFK em 2015, compondo 22 países, mostrou que 33% dos 26 mil entrevistados consideram a aparência do produto importante na decisão de compra.

No Brasil, o resultado foi acima da média global, chegando a 45%, contra apenas 8% que discordaram. Apesar disso, existe o questionamento que busca sobrepor a utilidade em detrimento da estética.

A pirâmide de Patrick W. Jordan pode esclarecer um pouco essa visão hierárquica entre a necessidade e o prazer:

Imagem de uma pirâmide azul, com a hierarquia das necessidades do consumidor, conforme Patrick W. Jordan.

Pirâmide de Patrick W. Jordan
Fonte: ilustração autoral

Aqui percebemos o que verdadeiramente consiste o design.

Não se trata de oferecer um produto que seja apenas bonito, mas desfrutar da vertente estética em conjunto com a utilidade para compor uma experiência completa.

Afinal, não estamos apenas interagindo com o objeto em si, estamos passando por um processo de despertar cargas de emoção, agregando sentidos intrínsecos ao item.

Tendo o design como um elemento que deixa de ser apenas um supérfluo e se torna um recurso estratégico essencial para manter a competitividade no mercado, há toda uma construção que se deve fazer para despertar os melhores sentimentos e consequentemente obter os melhores resultados.

Para despertar esses sentimentos sedutores, Jordan explica o design emocional categorizado em quatro tipos de prazeres:

1. Prazer fisiológico

Quando se trata de aspectos ergonômicos, a textura e os elementos que satisfazem os sentidos físicos, podem ser considerados prazeres fisiológicos.

2. Prazer social

Através do status, esse prazer relaciona o produto ao que ele representa socialmente, possibilitando a formação de grupos. Por exemplo: uma camiseta de time de futebol.

3. Prazer psicológico

Conectado às reações emocionais e cognitivas durante a interação com o produto. Aqui a usabilidade entra como um foco principal, já que produtos difíceis de usar geram certo nível de estresse.

4. Prazer ideológico

Analisando as características do produto, esse prazer está relacionado às preferências pessoais e ao gosto individual que muitas vezes são associados ao contexto e cultura que o indivíduo está inserido.

As pessoas não querem mais um produto que apenas desempenhe suas funções, mas aspiram algo capaz de enviar significados positivos através de seu design e interação sensorial.

É importante salientar que as emoções têm um papel crucial quando se trata da maneira como compreendemos o mundo.

Don Norman divide o processamento emocional em três níveis:

Quando pensamos no processo de tomada de decisão, esse é um dos principais níveis a ser abordado. A relação com o instinto atinge um nível subconsciente através da reação inicial da experiência. Ou seja, a primeira impressão ao usar um produto, pode nos fazer sentir atração e familiaridade.

“Um produto que atraia a pessoa nesse nível instintivo pode fazer com que os usuários superem problemas de usabilidade”

(Norman, 2004)

Processamento automático relacionado com o prazer de realizar uma tarefa do início ao fim sem interrupções, fazendo com que haja a sensação de estar no controle.

Refere-se a como nos sentimos após a utilização do produto. Esse nível tem relação direta com status social, já que ajuda a construir e espelhar nossa personalidade.

Ilustração com três círculos sobrepostos, representando os três níveis de design emocional. Círculo menor é o nível Reflexivo, o mediano é o Comportamental e o maior é o Visceral.

Níveis de Design Emocional – Fonte: “Design Emocional: Por que adoramos (ou detestamos) as coisas no dia a dia”

Aesthetic-Usability Effect

Existe uma tendência em acreditar que coisas com boa aparência funcionarão melhor. Esse é um conceito chamado Aesthetic-Usability Effect (Efeito Estética – Usabilidade).

Em outras palavras, há uma resposta emocional positiva quando a interface tem um layout agradável. Isso faz com que pequenos problemas de usabilidade sejam tolerados.

Segundo NN/g (Nielsen Norman Group), esse é um dos principais motivos para que uma boa experiência não seja composta apenas por uma interface funcional.

Processo de tomada de decisão

“A tomada de decisão é o caminho que nosso cérebro faz enquanto
pesa ambos os lados para chegar a um resultado.
Esse é um processo humano complexo e imprevisível.”

Lazarin, Cherobin, 2017

Pensando em um mundo cada vez mais competitivo, em que uma pessoa passa quase 12 horas por dia consumindo informação (GARATTONI, 2016), há uma busca constante por tomar decisões mais rápidas, coerentes e que, de certa forma, minimizem perdas ou maximizem resultados.

Mesmo que você se identifique com o perfil racional, as emoções têm um papel definitivo na tomada de decisão.

Daniel Kahneman (2012) diz que nosso cérebro funciona com duas entidades separadas: O sistema 01 é uma entidade intuitiva, rápida, que funciona sem gastar muita energia e o sistema 02 é consciente, lento e consome uma grande quantidade de energia para funcionar, esse é o lado racional.

Explorando as capacidades e limitações de cada um destes mecanismos, chegamos à conclusão de que o ser humano é acomodado, preferindo caminhos com menos esforço. Como uma forma de otimizar esse processo, as decisões rápidas e automáticas são orientadas pelas emoções.

Nesse caso, podemos dizer que a essência entre o design emocional e o processo de tomada de decisão é a influência das emoções em si.

“preferências intuitivas violam consistentemente as regras da escolha lógica, mostrando que os humanos não são bem descritos pelo modelo tradicional de agentes racionais.”

Kahneman 2012

Partindo da premissa de que somos mais de 134 milhões de brasileiros acessando a internet (VALENTE, 2020), os meios de decisão também estão presentes no mundo digital. Nesse contexto, as escolhas acabam se tornando um direcionamento padrão atribuído ao perfil da pessoa.

Ou seja, no universo digital temos a possibilidade de mapear informações de maneira que a decisão seja, não só  facilitada, mas direcionada.

Fullerton (2017), categorizou as tomadas de decisão em oito tipos:

1. Decisões vazias

Não apresentam consequência.

2. Decisões óbvias

Quando a escolha certa é evidente e não existe motivo para cogitar as outras opções.

3. Decisões informadas

Ocorrem quando se tem todas as informações a respeito dela, como as possíveis consequências e quais os riscos envolvidos.

4. Decisões desinformadas

Escolhas que envolvem conhecimentos que a pessoa ainda não tem.

5. Decisões equilibradas

Ambos os lados têm o mesmo peso. Ou seja, não existe resposta certa ou errada, apenas diferentes caminhos para serem seguidos.

6. Decisões dramáticas

Adicionam um valor emocional ao trabalho mental do decisor.

7. Imediatas

Uma forma de garantir que a decisão será feita da maneira esperada é colocar as necessidades imediatas da pessoa na balança. (Wargo, 2012)

8. Dilemas

Situações em que algo sempre será sacrificado, por isso não há escolha perfeita.

Dito isso, o autor salienta que para tornar a tomada de decisão interessante podemos adicionar consequências e evitar as decisões categorizadas como vazias e desinformadas. Essa é uma boa maneira de cativar a atenção do usuário.

Outra forma de trabalhar o processo de decisão no meio digital é reduzindo a quantidade de informações disponíveis.

Quando as informações que contribuem para a tomada de decisão são escassas, nossa mente utiliza a memória associativa para preencher as lacunas da melhor maneira possível, considerando os fatos obtidos. Por isso, priorizar apenas informações relevantes e reduzir o número de opções é uma maneira de facilitar a tomada de decisão.

Um site saturado de informações é o erro mais comum entre as pequenas empresas. (Blue Corona, 2018).

Pesquisa de mercado

A aparência de um site pode não ser a única coisa importante, entretanto um layout bem trabalhado deixa o usuário confortável e desperta um sentimento de confiança na marca.

A pesquisa realizada em 2018 pela Blue Corona mostrou que 48% dos entrevistados determinam a credibilidade de um negócio pelo design de seu site e 38% das pessoas deixariam de se envolver com o site se o layout não fosse atraente.

Ainda nessa pesquisa, foi possível analisar que:

Já a WedoLogos, que buscava entender o impacto do design em seu faturamento, mostrou que em  80% de empresas que investem constantemente nessa área, 89% tiveram aumento no faturamento geral.

Conclusão

“Nem um minuto se passa sem que o ser humano tome uma decisão.”

(LAZARIN; CHEROBIN. 2017)

Apesar de tentarmos seguir um caminho racional, existe uma padronização da tomada de decisão para poupar energia. Esse é um recurso automático e inconsciente que está atribuído à sobrevivência.

Entendendo esses mecanismos podemos associar o design para, não só criar um processo que exige menos esforço cognitivo, mas também contribuir para uma experiência agradável que nos conecta a uma série de emoções e significados positivos.


Serviços relacionados

Nós ajudamos você a liderar iniciativas de transformação digital na sua empresa.
Agende uma conversa